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Observações de um idiota (Eu) (Observations d'un imbécile (Moi)), Erik Satie



Ambroise Thomas

Sua arte? Não vou falar disso, se me permite, limitarei-me aqui a contar algumas impressões vagas.

Por que falar de sua tão curiosa prosódia? Philine canta: - "Je-e suis Titania la blonde"; Laertes nos diz: - "Belle, ayez pitié de-e nous". Isso é o suficiente.

Mas onde eu deixei meu guarda-chuva?

Sua grande época o escolheu para representar a grandeza musical da França. Ele foi aceito sem protesto, como ele estava sem alegria, enfim. Não importava.

Ainda bem que este guarda-chuva não foi muito caro.

O lugar que ele ocupava no mundo da música oficial era considerável, mas não cresceu nas mentes dos artistas: algo como as soberbas funções de um comandante geral do Corpo do Exército, muito visto e muito honorário. Não é ruim, você diz. Eu não me importo.

Eu tinha que esquecer meu guarda-chuva no elevador.

Fisicamente? Ele era alto, seco, áspero, como um espantalho. Com obstinação, distinguiu-se por não passar os braços, que segurava contra o corpo, nas mangas de um pesado sobretudo, muito grande, o que lhe dava a aparência de carregar sempre um de seus amigos às costas. Era o jeito dele de usar cabelos compridos.

Meu guarda-chuva deve estar muito preocupado em me perder.

Talvez seus braços fossem grandes demais; ou ele não pudesse movê-los, você diria? Eu não penso assim: seu redingote e seu colete o vestiram de acordo com o costume há muito estabelecido: corretos e pretos.

Ele está morto coberto de honras.
 


APENAS UM COMENTÁRIO (fragmento)



Para Henriette Sauret

Eu não gosto de piadas, nem faço essas coisas. Pra que serve uma piada?

A Grande História do Mundo diz poucas coisas notáveis. É raro que uma piada extraia sua fonte das graciosas entranhas da Beleza; mas é certo que muitas vezes saia das axilas sujas da Malícia.

Além disso, eu nunca brinco; e só posso aconselhá-lo a fazer o mesmo.

Uma das piadas mais tolas que chegaram ao conhecimento dos homens é, creio eu, a do Dilúvio. É fácil ver o quanto essa brincadeira foi grosseira e desumana, mesmo em seus dias; como também se descobriu que, sobre isso, não se tem absolutamente nada provado, e que a Filosofia não se desenvolveu de nenhuma maneira a esse respeito.

Evidência: com isso concluímos, nos deliciosos cumes da Razão, que a Piada não é senão uma Arte inferior, que não deve ensinar, que não pode se desenvolver, qualquer que seja seu título ou o fim a que nos propomos.

ERIK SATIE

 
Referência: ’Œil de veau. Revue encyclopédique à l’usage des gens d’esprit, 1 e année, n° 4, mai-juin 1912.

Tradução: Rond Assis

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